Por entre múltiplas desgraças, esta crise está a ser fértil em novos temas para conversas de café. Introduziu termos técnicos como "o buraco" no vocabulário corrente e pôs-nos a discutir o carácter precursor da epidemia de "subprime" que arrasou os nossos subúrbios muito antes dos americanos terem inventado o produto.
Com a vulgarização da crise, também o risco sistémico entrou nesse circuito. Como em tantos outros casos de conceitos que ninguém entende, tratámos rapidamente de passar de uma área eminentemente técnica para o campo do combate doutrinário. A noção de "too big to fail" tornou-se tema de gritaria e serviu de base para ataques a uma visão muito particular da regulação, em que esta supostamente existiria para proteger o homem comum do "neo-liberalismo" e da ganância.
No meio da algazarra, a única conclusão a que se pode chegar para já é que a regulação não falhou por não ser actuante mas porque, parafraseando o Adam Ferguson, estamos permanentemente a tropeçar em factos que embora resultem da acção humana, não são produto da sua intencionalidade. Este modelo de regulação progressista fez com que mais uma vez caíssemos no erro de pensar que podemos eliminar a contingência através do planeamento e da racionalidade, em vez de nos prepararmos para lhe sobreviver.
Há 49 minutos
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