Num país onde as pessoas não percebem que para baixar o preço de um bem basta deixarem de o consumir, o liberalismo terá necessariamente dificuldades em instalar-se. Haverá sempre um burocrata disponível para aliviar os portugueses das suas indignações, recorrendo a uma via administrativa.
À margem de teorizações, chega-se à conclusão que só há duas vias para o liberalismo: a do esclarecimento e a da responsabilização. A via da responsabilização consistiria em retirar progressivamente o Estado das nossas vidas, recuperando a ideia intragável de nos obrigar a assumir as consequências dos nossos actos. Apesar de ser a maneira abrutalhada de presentear a nação com o liberalismo, também seria a mais eficaz. Infelizmente, é uma alternativa condenada a morrer às mãos do grande pilar do conservadorismo pátrio: a intolerância ao esvaziamento de funções.
A via do esclarecimento, apesar de ser a via civilizada, é ingrata porque pressupõe uma "mudança de mentalidades" e qualquer "mudança de mentalidades", apesar de ser "a parte mais importante" de qualquer reforma, é unanimemente aceite como sendo a parte "mais difícil". Na melhor das hipóteses, "leva sempre muito tempo". No entanto, a inconsequência é um grande activo político de qualquer reforma, já que não exige grandes sacrifícios a ninguém. Os resultados só interessam aos cínicos. Isto significa que, para oficializarmos o início do processo de liberalização de Portugal, só precisamos de um político que assuma o liberalismo como uma paixão.
Há 1 hora
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