Para um político as crises representam um momento único de consenso, um período fugaz em que os seus detractores se dissipam quando confrontados com uma realidade que lhes escapa. O problema é que nesse momento a opção da imobilidade não existe. Há uma percepção generalizada de que não fazer nada, mesmo que essa seja uma decisão acertada, é um sintoma de incapacidade e não de sensatez. Se, nesse momento de abertura, o político não aproveita para avançar com uma reforma, qualquer reforma, depressa será comido vivo por opositores que se reagrupam e se multiplicam assim que detectam indícios de hesitação.
Como disse o Tocqueville, o momento mais perigoso para um mau governo é quando começa a fazer reformas. O perigo é redobrado quando esse instante reformista chega por entre o tumulto de uma crise e assente numa coligação de interesses que só se mantém unida graças à dinâmica desse mesmo instante e não com base no rumo que foi escolhido.
É nestas condições que surgem afirmações como as que o Primeiro Ministro tem vindo a produzir, em que diz que "o investimento público é o melhor instrumento que temos para criar emprego". Com esta frase, o Primeiro Ministro tenta fazer coincidir, erradamente, as suas opções como governante com as nossas opções como governados. O investimento público não é o melhor instrumento que nós temos, é o melhor instrumento que ele tem.
Este contexto de racionalidade condicionada em que o Primeiro Ministro se encontra actualmente só faz coincidir duas coisas: o perigo que as suas políticas anti-crise representam para o seu mau governo, com o perigo que elas podem representar para o país. É também este contexto que torna tão inquietante o facto de sermos governados por um português normal.
Há 1 hora
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