3.6.09

Uma Passagem pelas Urgências: Notas Breves

1. Critérios administrativos têm prioridade sobre o atendimento ao doente, excepto (presumo) nos casos em que há manifesto perigo de vida. Ninguém é tratado sem ter preenchido "a ficha", sem ter posto "a vinheta", sem ter carimbado "a credencial".

2. Se a triagem servisse simultaneamente de consulta para os casos sem gravidade, 95% das pessoas que estão nas urgências iam para casa em trinta segundos em vez de quatro horas.

3. A componente tendencialmente gratuita do Serviço Nacional de Saúde tem um efeito perverso nos seus utilizadores: faz com que estes vejam (legitimamente) o SNS como um direito, ou seja, faz com que exijam sempre o possível e o impossível, independentemente da gravidade da situação. Por outro lado, como constitucionalmente o direito à saúde e o direito à escolha nos serviços de saúde não foram combinados, o SNS é visto como uma fatalidade para uma determinada franja da população. Isto significa que não podem reclamar quando são ignorados porque não têm alternativa.

4. A componente tendencialmente gratuita do Serviço Nacional de Saúde tem um efeito perverso nos seus funcionários: faz com que estes vejam o utilizador como um borlista, independentemente do que este tenha pago através dos seus impostos. Isto significa que os seus funcionários se vêem com o dever moral de transformar numa penitência todas as passagens dos portugueses pelas urgências dos hospitais. Especialmente quando essa penitência não está garantida por motivos de saúde.

5. Entre um "lanchinho" nocturno e uma sala cheia de pessoas à espera de serem atendidas, a escolha dos enfermeiros, médicos e auxiliares é óbvia.

6. O alarmismo e o rendimento são, em média, inversamente proporcionais.

7. O pós-modernismo pode andar por aí mas são as mães que continuam a entrar nas urgências com as crianças ao colo.

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