2.11.09

Diferenças


Há uns tempos, passámos a descrever-nos como um "país desenvolvido". Deve ter sido pela mesma altura em que ganhar um jogo de futebol por 3-0 passou a ser "uma goleada". O problema é que todos os dias a realidade refuta estes devaneios semânticos. No futebol, para mal dos meus pecados, o Benfica anda a recuperar uma certa pureza linguística. Já na política, como é sabido, os redentores escasseiam.

Veja-se o exemplo da história da extinção da Unidade Técnica de Apoio Orçamental. Em teoria, a UTAO seria o equivalente nacional do Congressional Budget Office americano. No entanto, enquanto nós andamos a discutir a continuidade de uma unidade com duas (!) pessoas que ajuda a Assembleia da República a fiscalizar as manobras orçamentais do governo, nos Estados Unidos leva-se a democracia mais a sério. Além de fiscalizar as questões orçamentais, o CBO faz algo de extravagante: avalia publicamente o impacto nas contas públicas das ideias peregrinas do Congresso.

Foi o que aconteceu recentemente no caso da proposta de reforma do sistema de saúde americano, onde as suas estimativas servem para ancorar o debate político, não para o substituir. Por cá, o nosso "desenvolvimento" mal dá para garantir uma aparência de separação de poderes, quanto mais para nos salvar da miséria que resulta da condução dos destinos do país com base na fé.

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