Já que a hipótese de acabar com o casamento entre o Estado e cada um de nós parece estar fora de causa, temos de avançar para cenários "second best". Se o casamento homossexual servir para estender o conceito de família, sou a favor. Se o casamento homossexual servir para alargar o acesso aos benefícios directos e indirectos do casamento, sou a favor. Se o casamento homossexual servir para melhorar as hipóteses de uma adopção bem sucedida, sou a favor. Se tudo isto for feito em nome da igualdade, so be it. No entanto, há duas questões que é preciso considerar.
Em primeiro lugar, temos o que o Owen Harries chamou o "valor latente" das instituições. Ou seja, o facto de, muitas vezes, não conseguirmos conhecer verdadeiramente o papel de uma qualquer instituição até termos acabado com ela, altura em que é demasiado tarde para voltar atrás. Olhando por exemplo para o que foi feito com o divórcio na hora, é fácil perceber o perigo de olhar para um governo socialista medíocre como um defensor da instituição do casamento.
Em segundo lugar, ao não assegurarmos que existe realmente um consenso social tão alargado quanto possível sobre esta matéria, corremos o risco de dar o golpe de misericórdia numa instituição que já anda pelas ruas da amargura. O simples facto de alargarmos o conceito de casamento a uma união que a maioria da sociedade portuguesa considera ser, na melhor das hipóteses, uma anedota, pode ser o suficiente para destruir definitivamente a legitimidade social do próprio casamento.
Há maus argumentos para se ser contra o casamento homossexual mas nenhum deles justifica a elaboração de políticas sociais ao sabor do vento, que é como quem diz, em jeito de campanha eleitoral para as eleições que se avizinham.
(imagem daqui)
Há 5 horas
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