Nos anos noventa, quando se começou a falar em reengenharia, uma das justificações para refazer processos produtivos era uma alteração no tipo de mudança que assolava o mundo. Nos bons velhos tempos, a mudança era violenta mas esporádica, agora tinha passado a ser gradual mas constante. Tornou-se necessário reinventar a roda. Para se sobreviver neste novo sistema era preciso substituir a coerência pela consistência. À direita, este género de raciocínio levou a ideologia e deixou o populismo. A "vontade do povo" deixou de ser moralmente neutra.
O problema é que o "povo" é contraditório e a sua "vontade" não existe. Isto obrigou a uma tentativa de construir um eleitorado em forma de manta de retalhos. Com algum cinismo, a hipocrisia pode ser descrita como uma forma de conjugar liberdade económica com conservadorismo social, tradição e dinamismo, reforma e continuidade. No entanto, também pode ser descrita de outra forma. Pode ser descrita como vivendo em concubinato com esse outro limite telegénico da direita, o moralismo. Uma relação íntima que nasce da associação forçada de elitistas e desfavorecidos, de católicos fervorosos e homossexuais, de púdicos e abortos discretos. A moral pública da direita morre às mãos dos seus pregadores. Sendo de impossível de praticar, é impossível de defender.
Há 3 horas
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