A propósito dos recentes episódios na Guiné-Bissau, lá voltamos ao "conflito étnico" como explicação necessária e suficiente para os males africanos. Sendo um tipo limitado, tenho alguma dificuldade em engolir a seco esta justificação. O "conflito étnico" tornou-se um truísmo quando se discutem causas para a inevitável miséria de África. Passa-se o exactamente o mesmo quando se aborda o problema da droga nas prisões: o único ponto assente é que é algo que não tem solução.
Uma volta rápida pela internet produz como explicação para o conflito étnico o colonialismo, a escassez de recursos, a psicologia, a modernidade, a identidade, a desigualdade, a biologia, a democracia e os mercados, e até uma coisa chamada "neo-patrimonialismo". Na Foreign Affairs do Verão passado discutiu-se, a propósito deste tema, o nacionalismo e o separatismo, num artigo chamado precisamente "Is Ethnic Conflict Inevitable?". Torna-se claro de onde vem a necessidade de não transformar o conflito étnico em mais do que uma muleta para passar em análises de noticiário. Dada a multiplicidade de explicações, fica-se com a ideia de que ninguém sabe verdadeiramente justificá-lo. No entanto, parece que há um consenso quanto à sua responsabilidade pelo caos africano. Não percebo como é que se faz essa passagem.
Como também nesta matéria sou um perfeito ignorante, gostaria sinceramente de ver a nossa blogosfera das relações internacionais ou da antropologia a avançar com algo de mais aprofundado do que as frases feitas que circulam pelos meios de comunicação. Paulo Gorjão? Bernardo Pires de Lima? Jaime Nogueira Pinto? Alexandre Guerra? Miguel Vale de Almeida? José Pimentel Teixeira? Alguém?
Há 1 hora
comentar
Enviar um comentário