28.11.08

Da solidão VI

A agenda liberal e o ideal social da democracia cristã, por serem facilmente adoptáveis pelo "centrão" em caso de necessidade (como aliás já aconteceu), colocam um problema estratégico básico ao CDS: para sobreviver terá de optar entre uma tentativa de liderar uma alternativa de direita, e a continuidade do seu estatuto de partido charneira do regime. O problema da primeira opção é a manifesta falta de meios do CDS, a falta de "capital social". O problema da segunda é o seu parasitismo em larga medida indigno.

Este dilema estratégico remete-nos para um problema mais vasto: qual é o papel de um partido que se situa num dos extremos do espectro democrático? Resumidamente, defender ideias que o centro não pode defender. Estas, por sua vez, dividem-se em ideias que ninguém pode defender com seriedade e ideias que alguém devia defender. Neste quadro de análise, uma vitória de um partido de direita minoritário resume-se à derrota prática da extrema-esquerda (já que a derrota teórica é indiscutível) e ao fim da inevitabilidade da social-democracia em que o país vive ensopado.

17.11.08

Da Solidão V

O Roger Scruton disse, e bem, que a liberdade de escolha, ou seja, a liberdade "formal", seria inútil como princípio orientador sem um conteúdo que a sustente, sem um fundamento "material". No entanto, só num país em que a maioria das pessoas não se incomoda com este pluralismo político monocromático, onde todos podemos defender o que quisermos desde que seja uma variante mais ou menos feroz do socialismo, é que a liberdade de escolha, mesmo na sua versão instrumental, pode ser vista como desnecessária. Talvez seja isto que nós merecemos mas, apesar de tudo, a representatividade do sistema eleitoral permite-nos sonhar com uma alternativa de direita que seja algo mais do que um amargurado vestígio reaccionário ou um liberalismo colado com cuspo.

Dar um conteúdo a essa liberdade formal que gozamos passa sobretudo pela subversão, pelo abandono do modelo de fazer política que tem como único objectivo ser mais eficiente do que os outros partidos na procura do voto e que, na sua mais venerável encarnação, confunde estratégia com visão. Mesmo assumindo que a única medida do sucesso de um partido é o seu número de votos, se o CDS se limitar a tentar copiar outras forças partidárias, sem meios para o fazer e assombrado pela respeitabilidade a que se arroga, vai inevitavelmente cair num populismo indigente. O populismo é uma estratégia tão válida como qualquer outra mas, sendo fácil ir cada vez mais longe quando se trata de nivelar por baixo, há um custo de oportunidade claro em tentar ir atrás de um voto boçal e esse custo traduz-se num futuro irrisório.

13.11.08

Da solidão IV

A grande vantagem da exiguidade do CDS é a de que só pode ser povoado por pessoas que não precisam verdadeiramente do partido para nada. Para além de uma acanhada minoria com cargos remunerados, o resto do partido é composto por um grupo impassível com tempo para sacrificar. No entanto, não podendo o partido reclamar titularidade sobre esse tempo, é natural que o CDS tenha tendência a esfarelar-se sem um objectivo agregador, sem um sucedâneo do poder.

A cruzada para descobrir um alvo comum a eleitores, militantes de base e "notáveis" já levou o CDS a todo o tipo de paragens, umas mais recomendáveis que outras, com uma reclamação recorrente cada vez que os resultados ficavam aquém dos objectivos: a do regresso aos valores. O partido, ou pelo menos o partido profundo e conservador, quer ideais, mais particularmente ideais morais.

O problema deste eterno retorno a um certo moralismo é que não chega para conquistar votos para além dos da base tradicionalista do CDS. Isso significa que o partido precisa de uma agenda, uma agenda que só pode nascer do liberalismo e do ideal social da democracia cristã. Porquê? Porque a tradição conservadora é, ou devia ser, sobretudo reactiva, despertando apenas para fazer face a ameaças às instituições e não para propor transformações sociais. Ou seja, porque o conservadorismo não é um programa político, é um método.

12.11.08

Da solidão III

Um militante é alguém que resolveu sair da sua "zona de conforto" para tentar reconciliar-se com a ideia de que pode fazer tanto pelo seu dia-a-dia através da participação na vida pública, como tratando dos seus problemas do quotidiano directamente. Há quem chame a isto civismo mas a triste realidade é que ninguém embarca neste tipo de sentimentalismo se não se sentir acossado: acossado pela fome, pela Cofidis, pela inépcia ou, como diria o outro, pelo estado a que isto chegou.

Face a estas origens difusas do voluntarismo, um partido só pode oferecer uma forma de agregar, coordenar e canalizar a multiplicidade de motivações que levam alguém a participar activamente na política. Por outras palavras, como prelúdio para o poder, um partido só pode oferecer organização. O problema para um partido como o CDS, onde do poder só há vestígios, é que não basta organização, é preciso idealismo.

11.11.08

Da Solidão II

Em Junho, quando o Obama ganhou as primárias, o Economist fez o seguinte resumo da fórmula para o sucesso da campanha em termos de donativos e de voluntários: Mr Obama simultaneously lowered the barrier to entry to Obamaworld and raised expectations of what it meant to be a supporter. Esta complementaridade entre as baixas barreiras à entrada e expectativas elevadas explica também porque razão não faz sentido a ideia ciclicamente recuperada de que a "abertura" dos partidos é essencial para a sua salvação.

Não faz sentido pela simples razão que a "abertura", tal como tem sido vendida, é vista como um fim em si mesmo, como uma solução tanto para as barreiras à entrada como para as expectativas associadas a essa entrada. Ou seja, bastaria abrir os partidos para que as pessoas, subitamente livres para se banharem no caldo tépido da política, mergulhassem de corpo e alma nessa nobre actividade. Este conceito de "abertura" falha porque parte do princípio de que se for aberta uma porta as pessoas vão querer entrar, independentemente do que estiver do outro lado.

Neste momento, o que está do outro lado, como resultado da heredeteriedade do rotativismo nacional, é cerca de metade do que o país produz num ano. São 77.556.000.000 de euros, ou seja, 25 vezes a fortuna do homem mais rico de Portugal, para distribuir anualmente. Se mesmo assim as pessoas acham que não vale a pena enveredar pela política, tenho sérias dúvidas que baste "abrir" os partidos para que essa situação se altere.

7.11.08

Da solidão

A primeira constatação que um militante anónimo faz quando se filia é a de que os partidos não estão preparados para receber espontâneos. Não faz parte da natureza partidária acolher alguém que não conhece ninguém, que não passou por lado nenhum, que aparece sozinho e sem convite.

Em certa medida, é natural que assim seja. Afinal de contas o poder conquista-se em rede. No entanto, esta lógica é sobretudo válida nos partidos do Bloco Central, um atoleiro onde se assume que exista uma estrutura activa e um esquema de distribuição de dividendos que atraem e enquadram candidatos a militantes. Como, ao contrário do que alguns parecem pensar, o CDS não é um partido de poder, isso significa que a estrutura é titubeante e que os dividendos são na sua maioria deprimentes.

Neste cenário a pergunta que se impõe é: o que oferecer quando não há nada para oferecer?

1.11.08

Sobre a Campanha Permanente


Autor


Tomás Belchior, 31 anos, lisboeta, pessimista com alguns remorsos, economista não-praticante, vodka tónico.

Linha Editorial

Sabendo que a primeira coisa que irei fazer é desrespeitar qualquer linha editorial, vou esforçar-me por ser vago. Tentarei escrever sobretudo sobre política, do ponto de vista de um militante anónimo do CDS. Como o anonimato implica uma certa desresponsabilização, é natural que também escreva sobre o que me apetecer, algures entre a actualidade e a metafísica. Não inclusive.

Motivações

Há anos que quero "participar". Há anos me deixo convencer a não o fazer, embalado tanto pelo espectro da minha própria inutilidade como pelo da inutilidade do propósito participativo. Para facilitar a opção imobilista, sempre quis ver os bastidores da democracia a partir do interior do partido mais desprezado do panorama político português.

Os argumentos utilizados por amigos para me tentarem manter do lado de fora foram diversificados. Desde os inúmeros clichés vulgarmente associados ao CDS, à direita, aos partidos, aos políticos, até alertas quanto à minha fraca qualificação para a militância (afinal de contas não conheço ninguém "lá dentro") e aos riscos de transformação "num deles", tudo serviu para tentar provar o absurdo da filiação. Aparentemente são preocupações válidas.

No entanto, a postura da política de bancada, da política como bolo alimentar de referências avulsas, de convicções instintivas, sempre me lembrou uma frase lapidar que ouvi com lamentável regularidade da boca de alguns professores: "Isto não é sério." Não é sério enquanto não envolve risco, enquanto não envolve lidar diariamente com a nossa própria cobardia e com o inevitável ridículo. A falta de seriedade, essa sim, é uma preocupação válida.

Sendo assim, num momento de lirismo, filiei-me e comecei este blog. Filiei-me para tentar e eventualmente falhar ou, recorrendo ao chavão, para tentar e falhar melhor. Talvez inspirado por aquela ideia de que a maneira mais rápida de acabar com uma guerra é perdê-la, comecei este blog para dar oportunidade ao crescimento em público de precipitar as coisas.

Estamos portanto sob o signo da ingenuidade e da ignorância. Fica feito o aviso.

Porquê o CDS?


Porque é um partido de direita. Porque é um partido pequeno. Porque é um partido no limiar da relevância. Porque já não há nada para distribuir. Porque a negociação nem sempre é desejável. Porque há uma oportunidade. Porque há sempre oportunidades.

Contacto

Para insultos ponderados: acampanharpermanente [arroba] gmail [ponto] com
 

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